Imaginar um Jardim Balanta
Quando eu estava na Guiné-Bissau a projectar um jardim, muitas pessoas pensavam que eu estava a referir-me a um jardim de infância. Esta associação tanto fortuita como verdadeira (o jardim fará parte de um complexo pedagógico: a escola básica de Malafo e a futura Mediateca) apraz-me. Nas conversas, as palavras são trocadas. Nos jardins, as sementes e as conversas também são trocadas. No jardim ou na sua proximidade habitam os jardineiros, os possíveis guardiães das sementes e das conversas (as árvores vivem durante muitos anos, ouvem muitas coisas e guardam muitos segredos: elas são poderosas). Mas o que significa fazer um jardim em Malafo, uma pequena aldeia Balanta rodeada de florestas e bolanhas? Não será, segundo a perspectiva Balanta, o universo inteiro um jardim? Como distinguir o jardim das florestas e bolanhas, das hortofrutícolas e das galinhas? Como zona de transferências e combinações, conflitos e simbioses, o jardim que propomos será inevitavelmente, para além da miragem de um jardim Balanta, um jardim crioulo, ou um jardim em processo de crioulização. Esta crioulização será expressa nas ligações sempre instáveis da horta com o seu contexto social e agroflorestal, na incerteza das suas fronteiras, ritmos e cadências. Uma horta, portanto, simultaneamente utópica e situada. Um jardim de possíveis impossibilidades. (Sancho Silva)